domingo, 14 de setembro de 2008

TUPI CONTADA À MODA DE JACK, O ESTRIPADOR: POR PARTES

(Símbolo da tv Tupi - um indiozinho)
Começa agora TUPI contada por partes. Para que se possa ter entendimento do que foi o início da “brincadeira” de fazer televisão, falarei a princípio de um cara que, a partir da compra (mais precisamente fiado) do JORNAL DO RJ, por 100 contos de reis, criou o que seria chamado de o maior império de comunicação, composto aproximadamente de 35 jornais, 25 emissoras de rádio, 18 televisões e 2 revistas.

Com toda esta informação ficou fácil de saber quem era a personalidade à frente de tudo isso, personalidade esta de grande impacto, ousadia, determinação, em que não mediu esforços (e chantagens) para alcançar e conquistar a ascensão em mídias: ASSIS CHATEAUBRIAND BANDEIRA DE MELO, paraibano de Umbuzeiro, nascido em 05 de outubro de 1882 (libriano), que tinha muito jeito para o jornalismo, tanto que dedicou-se muito, tendo chegado a escrever, em sua juventude, no JORNAL PEQUENO e no DIÁRIO DE PERNAMBUCO, apesar de sua formação profissional ser direito (Faculdade de Recife).

(esse é o Assis Chateaubriand... sorria para a câmera)





Tratarei superficialmente de Assis e da estréia da televisão Tupi, pois quero focar mais nos acontecimentos mais posteriores, que levaram a majestosa Tupi à decadência.

Não querendo chatear nenhum fã, deixo claro que, fatos mais importantes sobre Assis Chateaubriand serão postados brevemente por um de meus colegas do BLOG. Não percam!

Continuando...

Com mais intimidade, vamos tratar Chateaubriand apenas por CHATÔ (assim conhecido intimamente em sua época). Este magnata da comunicação colocou na cabeça que iria implantar a TELEVISÃO no Brasil, mesmo sem saber muito como ia ser, pois o velho Chatô era muito desorganizado, tinha sorte de possuir uma grande esperteza (o que lhe salvava).
Tanto era visível sua desorganização que, por exemplo, no início da implantação da televisão, com quase tudo pronto para a primeira transmissão, percebeu, o engenheiro norte americano WALTHER OBERMULLER, diretor da NBC TV, que não haveria telespectadores para receber esta mídia, pois não tinha televisores na casa de ninguém. Correndo contra o tempo, dando um “JEITINHO BRASILEIRO”, Chatô contrabandeou televisores para o Brasil (eita paraibano danado), colocando metade posteriormente em vitrines e a outra metade deu de presente para alguns de seus colaboradores. Para não “desagradar” a política com seu contrabando, pediu que enviassem um televisor no PALÁCIO DO CATETE, para o presidente Dutra (jogada geniosa).

E o circo estava armado. No dia 18 de setembro de 1950 (só lembrando: neste ano faz 58 anos, mais precisamente na quinta-feira) a televisão foi inaugurada. A Tupi surgiu em improvisos, valendo destacar que a maioria dos envolvidos nisto eram profissionais de rádio.

Por isso é certo dizer que a televisão nada mais é que a cópia do rádio, em programas de calouros, noticiários, novelas, etc., com apenas uma diferença: o contato do público com esta mídia é visual.


Depois de toda essa euforia com a estréia e início da televisão TUPI, Chatô, essa mistura de LAMPIÃO com MARECHAL RONDON, tentando proteger sua obra do esfacelamento, criou o CONDOMÍNIO ACIONÁRIO DOS DIÁRIOS E EMISSORAS ASSOSSIADOS (todo seu império reunido). Mas foi aí que surgiu a grande falha, tendo escolhido alguns colaboradores para ajudar na administração de suas mídias, pensou estar fazendo a coisa certa. Na verdade, nenhum desses colaboradores estava à altura de organizar esse império e muito menos queriam fazê-lo, pois colocavam à frente dos objetivos do velho Chatô, seus interesses pessoais. Ficou ainda pior com a morte de Chatô, ROBIN HOOD NA CLASSE EMPRESARIAL. Operou-se total descaso com as obrigações fiscais e trabalhistas, avolumando problema em cima de problema.

Os administradores não tinham interesse em fazer evoluir o império de comunicação criado por ASSIS CHATEAUBRIAND, apenas queriam ganhar e gastar mais dinheiro. Não tinham em mente de que para manter uma mídia de comunicação é necessário pensar nela como um negócio (coisa que não visaram).

É a partir daqui que o assunto TV TUPI começa a ficar bom. Falarei sobre os muitos descasos e abusos sobre os bens do Chatô após sua morte, no qual surgiu uma grande dívida, dívida essa que foi avolumando sem fatores que possam explicar tal fenômeno. Há os que dizem que a situação chegou a tal ponto, que o principal credor, que era o governo, fechou os olhos ao problema para não agrava-lo ainda mais, atrasando, no entanto, o desfecho de uma crise que, quando viesse à tona, prejudicaria os próprios credores, criando também um problema social.

E...

Bom é melhor discorrer este assunto na próxima semana. Deixo para vocês alguns trechos de uma conversa gravada de Assis, numa reunião da ASSOCIAÇÃO DAS EMISSORAS DE RÁDIO, fita magnética encontrada num depósito de lixo da Rádio Tupi, por HUMBERTO MESQUITA, jornalista e ex-funcionário da extinta emissora.

“(...) O nosso imperialismo, que existe e que é verdadeiro, é um espantalho para tudo quanto é governo no Brasil, e sobretudo um espantalho para os meus amigos quando vão para o governo. E a primeira tese deles é esta: não deixar Chateaubriand crescer, não deixar os Diários Associados se expandirem.
(...) Nesse governo tão desconfiado de Vargas, em que ele nos negou tudo, com o objetivo de exterminar os Diários Associados, Roberto Marinho, que representava só um jornal e apenas uma rádio, Getúlio Vargas mandou dar a ele 122 mil contos, sendo 66 mil pela Caixa Econômica do Rio de Janeiro e 60 e tantos mil pelo Banco do Brasil. Nós nunca tivemos essas gratificações. Tivemos de arranjar a nossa vida conosco e com bancos privados, que, por tradição, no Brasil não trabalham com os jornais, só excepcionalmente, e nós conseguimos essa exceção.
(...) Nesses 31 anos, a minha vida foi estar de carabina na porta disso para defender esse patrimônio. E, se eu não fosse paraibano, do sertão, acho que esse gaúcho teria me comido.
Em Minas Gerais, nós estivemos, com o dr. Virgílio de Melo Franco, às portas de perder toda a organização. E, se eu não tivesse feito uma diabólica aliança com Getúlio Vargas, porque eu me aliava ao próprio Satanás, Virgílio teria devorado todas as empresas mineiras. Eu primeiro me aliei com Virgílio contra Getúlio e depois me aliei a Getúlio contra Virgílio. Se eu contasse a vida dos Diários Associados, eu tinha primeiro que mandar Satanás baixar à terra e ver o número de alianças que eu tinha feito com ele, porque mesmo com o diabo há acomodações, e o diabo no caso era Getúlio Vargas(...) Porque Getúlio Vargas no fundo gostava de mim, porque eu era um canalha igual a ele, e ele sabia que eu manobrava com ele quase sempre com o propósito de enganá-lo, como ele enganava a mim.”

(Escrito por Claudinete da Silva)



Fonte de pesquisa:
Livro - Tupi: a greve da fome, de Humberto Mesquita - Cortez editora
Site - Imagens retiradas de: www.geocities.com/memorialdatv

Um comentário:

Márcio disse...

Bela sóntese de Chatô: Lampião com Marechal Rondon... resume bem quem ele foi.