segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A primeira Copa ninguém esquece

(Por Aline Rozza )

Em junho de 2008 foi comemorado o cinqüentenário da Conquista da Primeira Copa do Mundo pelo Brasil na Suécia, cujo titulo colocou definitivamente o Brasil no topo do futebol e abriu caminho para que o País se tornasse a principal potência do esporte mais popular do planeta.
Muito se falou sobre a preparação iniciada um ano antes sob o comando de Paulo Machado de Carvalho, o “marechal da vitória”, também se falou sobre a dificuldade em enfrentar seleções favoritas como França, Inglaterra e União Soviética. No entanto algo que foi pouco lembrado nas comemorações do jubileu de ouro foram as enormes dificuldades enfrentadas e superadas pela imprensa brasileira para cobrir a Copa na distante Suécia. E isso em uma época na qual a seleção brasileira de futebol tinha pouco crédito, após os fracassos em pleno Maracanã, em 1950, e na Suíça em 1954.
A televisão era um veículo de comunicação pouco difundido na época. Contudo, o fato não impediu o desentendimento entre os donos de emissoras quando o assunto era a cobertura do Mundial. Naquela época as partidas não eram transmitidas ao vivo (facilidade que só chegaria em 1970) e as filmagens das partidas feitas pelos cinegrafistas brasileiros só chegavam na Suécia dois dias depois dos jogos. Ainda assim já existiam contratos de exclusividade. A pioneira TV Tupi, cujo o dono era o lendário Assis Chateubriand, se adiantou e garantiu os direitos de transmissão dos filmes, comprados de uma empresa sueca.
Paulo Machado de Carvalho , que também era dono da maior concorrente da Tupi, a TV Record, estava tão envolvido com o objetivo de conquistar a Jules Rimet que acabou conformando-se com a perda dos direitos. No entanto, a TV Rio, que era associada à Record de São Paulo e cujo dono, Pipa Amaral, era cunhado de Paulo Machado, resolveu passar por cima da exclusividade da TV Tupi. Mandou para a Copa o locutor Luiz Mendes, o cinegrafista Augusto Rodrigues e, junto com eles, uma moderna – para os padrões técnicos da época – câmera Auricon, que gravava imagem e som, para filmar clandestinamente os jogos da seleção brasileira.
O orçamento da TV Rio para a cobertura era tão minguado que Mendes e o colega ficaram hospedados em uma casa de família e até a alimentação dos repórteres era precária. Para entrarem no estádio sem serem percebidos com toda a aparelhagem, os dois, lançaram mão da velha malandragem: escondiam a câmera em uma sacola grande, com muitos sanduíches e refrigerantes cobrindo o equipamento. O grande feito da equipe de jornalistas cara-de-pau foi, justamente, não ter perdido nenhum gol durante as partidas.
Depois de cada partida, os dois corriam para o aeroporto com os rolos de filme em uma sacola e entregavam para o primeiro comissário de bordo que fosse voar para o Rio de Janeiro, onde uma pessoa da própria emissora aguardava no aeroporto receber o material. Depois de revelado e editado, o filme ia para o ar. E os telespectadores, mesmo já sabendo o resultado do jogo, ficavam extasiados com as jogadas dos craques brasileiros.
Depois da Copa do Mundo, o público brasileiro acompanhou uma explosão no interesse da mídia sobre o futebol e especialmente sobre a seleção brasileira. Assim como a seleção, que conquistou outras quatro Copas do Mundo, a qualidade da cobertura da imprensa melhorou, pois os meios de comunicação evoluíram tecnicamente. O que há cinqüenta anos levava horas, hoje é transmitido em tempo real.
E foi assim, no improviso, na paixão pelas transmissões, no comprometimento com o público, numa era romântica do jornalismo esportivo, no auge das crônicas de Nelson Rodrigues, que a imprensa nacional fez-se presente, diante dos olhos do telespectador brasileiro fascinado. Sem dúvida um marco histórico, para o futebol, para a imprensa e também para a trajetória da televisão nacional.